Índice
1. ............................Uma gaja boa!
2. ............................O jantar
3. ............................Continua...
1. Uma gaja boa!
Tinha saído do Porto há uma hora e trinta minutos, sem parar, aquele tasco depois da curva, seria o sítio ideal para fazer uma paragem, ir a casa de banho, tomar um café, e fazer umas perguntas acerca do parque de campismo. Finalmente o rio, e a seguir o tasco "Ponto de Encontro".
Estacionou, e olhou em volta, atravessou para o lado oposto da estrada e como devem imaginar foi fazer "xixi" atrás dos matagais e arbustos. Dirão alguns, aquele gajo é louco, o nosso amigo jornalista tem pavor as casas de banho publicas, e quando pode dentro da maior das privacidades e modéstias, faço sempre que posso na maior das descontracções em contacto com a natureza. Aproveitara o momento, e tirara algumas fotos ao local. Atravessou a rua e entrou no café, um velho estava ao balcão, como que à espera do cliente para quebrar a rotina da monotonia - Um café se faz o favor. Olhou em redor e viu o lavatório, aproveitou para ir lavar as mãos, quando ensaboava as mãos reparou para o espelho e deu de caras com uma figura feminina. Ainda era uma jovem, uma boca pequena, uns dentes brancos, uma pele acastanhada, e o cabelo com do fogo, em contra luz dourada pelos raios solares naquele fim de tarde, aqueles óculos grandes e com os aros cintilantes, encobriam um mistério.Alberto, o jornalista, estava estático, tinha visto, tinha avistado uma deusa… fechou a torneira, tentou não olhar para aquela figura feminina que se sentava solitariamente na mesa ao fundo do salão., digeriu-se ao balcão, pôs o açúcar no café e perguntou ao velho do Café.
-Quantos quilómetros faltam para chegar a Crespins?
-São exactamente 8. O marco da JAE está ali na curva, esta casa esta a 8.200 metros da Vila. È sempre em frente não tem nada que enganar. È a primeira vez que bem cá? È do Porto?
Alberto sorriu – não, mas conheço muito mal. E virou as costas para apreciar a decoração muito particular, o tecto estava coberto com alguns utensílios da agricultura e de uso domestico, dignos de fazer parte de uma colecção de utensílios etnográficos, no fundo da sala, onde se sentava aquela mulher enigmática estava a lareira, com uma trave mestra consumida pelo fumo e pelo calor, surgia uma chaminé de xisto. Na chaminé estavam colocadas duas armas muito antigas oxidadas pelo uso, pelo tempo e preservadas pelo fumo da lareira. Olhou pela janela, e muito disfarçadamente olhava, gravava na sua mente os pormenores da mulher que ali se apresentava. A camisola verde, com as palavras: You – me – us – eu, tu, nós. A pulseira de resina cor preta, ametista, dava volume aos seus frágeis e joviais braços. Bela companhia para o fim-de-semana, pensava, seria óptimo para quebrar a monotonia, para o levar a conhecer a os recantos mais escondidos da serra. Voltou-se e lançou o ultimo olhar para a mulher. - Meus Deus ela é muito gira… o seu olhar ficara preso da Pulseira, da Pulseira de Pandora.
- As armas são para vender? Perguntou ao velho tasqueiro?
-Não, não são… a pederneira lutou contra os franceses no tempo de Napoleão, a outra era do meu Avó que ainda conheci. –
O homem parecia desconfiado. Decerto que não lhe faltavam razões para o julgar com suspeição: um sujeito moreno, de óculos escuros, vestido de ganga, de botas de trabalho, com o cabelo muito curto e com um forte assento tripeiro, poderia ser algo de estranho para aquelas terras. Turista não era, vinha só, deveria ser mais um daqueles vadios da cidade que iam para a Serra para a pouca vergonha. Com uma esperteza matreira perguntou ao nosso jornalista: - Trabalha na construtora que está a fazer a ponte? Enquanto olhava dos pés à cabeça e vice-versa.
- Não, porque?
- Anda aí uma empresa do Porto que vai construir uma nova ponte e o senhor pareceu-me um deles. É motorista?
- Não. Estou de visita ao concelho e à Serra, estou a fazer um trabalho sobre a Serra para a Câmara.
- Ah! É dessa coisa das árvores e dos fogos?
- Sim, mais ou menos… sem entrar em pormenores. Quanto o silêncio bucólico foi enterrado pelo chegar de um táxi, do qual saiu um homem apresado que ao entrar pela porta Saudava os presentes.
- Boas tardes Sr. Tino e companhia. Boa tarde Menina, peço desculpa por chegar atrasado.
A menina levantara-se, o jornalista olhou de novo para a mulher, a sua silhueta invadia-lhe a mente. – Há quanto tempo não tinha visto algo semelhante. A gaja é mesmo boa…
Ela entrava para o carro, silenciosamente, sem voltar a cara. Tinha-se despedido com um simples boa tarde e bom fim-de-semana. Deixara no ar um perfume abençoado e açucarado. Que vontade, que necessidade tinha de conhecer alguém, bonita, inteligente e perdida no sonho e na vontade de viver.
- Moça bonita…. Disse o taberneiro.
- É cá da terra… é sua filha? E sorriu para o taberneiro.
- Não é a enfermeira do Posto Médico da Vila, anda na casa das pessoas a fazer curativos aos doentes acamados… Coitada é de Trás os Montes, lá para o lado de Vinhais, Bragança… Qualquer dia vai embora… è muito boa pessoa e simpática...
É bonita… Vou pôr-me a caminho, vou até ao Parque de Campismo.
- Não tem nada que enganar… é sempre nesta estrada e à entrada da vila tem as placas e você segue sempre que vai lá ter direitinho.
- Muito Obrigado. Pagou e saiu, já dentro do carro, deixando-se embalar no sonho pela musica, não saia da sua mente a silhueta da Menina Enfermeira, os cabelos claros, ligeiramente longos, uma franga invulgar, um nariz muito senhor de si, uns lábios rosados, brilhantes e com muito para dizer e fazer. Os óculos, as pedras que contornavam os aros, a pulseira de massa preta, a pele sardenta, queimada pelo sol da Serra.
Acordou bem cedo eram 6:00 da manhã, um golo de sumo de não sei o quê para despertar, uma corrida matinal e estava correr em volta do campo de futebol do parque de campismo. O bangalou era um espectáculo, casa de banho, cozinha, uma cama confortante, circundado por árvores, e protegido pelas colinas verdejantes não davam forças ao nosso jornalista. A mulher, a miúda, a enfermeira não lhe saia da cabeça. Parou e pensou em voz alta – She is fucking high-quality! – o que poderia fazer para a conhecer? Sonhos, ilusões, ainda ontem à noite tivera que aturar a gerente do Parque. Uma quarentona toda "boa zona", a cara é que a estragava um pouco, mas tinha um corpo – Minha Nossa S…, é de um homem se babar. Os peitos ainda firmes e hirtos, umas ancas e umas nádegas muito bem defendias para modelo e umas pernas acima da média… mas a cabeça, do pescoço para cima uma verdadeira peça de museu… - Não se imagina, nem sequer lhe passava pela cabeça beijar uma mulher como aquela, mas a enfermeira… e saltou de alegria ao mesmo tempo que uivou como um lobo. Há quanto tempo não se aventurava, não amava, não partilhava bons momentos com alguém fantástico…
Sonhos! Nem se quer tinha perguntado o nome ao taberneiro – Sempre a sonhar com uma deusa, com alguém que não existe. Provavelmente, apesar de não ter hipóteses de conhecer a enfermeira seria provável mente mais uma gaja chata, aborrecida, em vias de ser uma encalhada como a maioria…. a camisola “you me us” era fatela...
2. O jantar
A música que entrava pelos ouvidos, subia até aos neurónios, despoletando explosões de ideias, bons sentimentos, boas vibrações, dava asas ao seu imaginário, a velocidades do carro, as luzes amarelas dos candeeiros e dos carros que ficavam para detrás, o pôr do sol no fundo da avenida a tocar o mar, como a querer ser engolido pelo mar sereno, daquele fim de tarde. E cada momento, com o navegar do carro pela avenida fora, e com a música, o amarelo do horizonte importava para o seu imaginário aquela figura feminina: a Enfermeira… Sonhava com ela!
Não lhe saia da mente, ria-se, imaginando fazer com ela fortunas, realidades, coisas, totalmente diferentes daquilo que já tinha feito com outras mulheres: passear pela montanha, tirar fotos a tudo o quando era belo na natureza, mostra-lhe os recantos por si bem conhecidos e segredo seu, nadar no rio, cozinharem ao ar livre, acampar no alto da montanha, olhar as estrelas na escuridão da noite.
Parou o carro junto ao promontório, saiu, respirou fundo e contemplou o pôr-do-sol. De súbito, no fundo do vale uma águia voava desorientada, enquanto piava bem alto, como quem diz: - Este é o meu território! E a imagem daquela mulher tonta surgia a sua frente como um fantasma.
“ - É uma “ponta”. Meu Deus! Mais uma separada sem filhos a viver só! Com os seus três lindos gatinhos!” - Dizia o Jornalista em voz alto.
Enquanto se ria daquela infeliz criatura Dr.ª Marta Santos e das histórias que ela lhe tinha contado, mas o seu olhar tinha ficado naquele cruzar de pernas, pernas de quem cuida muito bem do seu corpo, de quem passa umas horas na bicicleta, a correr ou a fazer ginástica. As nádegas eram realçadas pela saia presta e justa, em contraste com a blusa branca a deixar evidenciar a sua elegante cintura vigiada pelos seus imponentes seios: - Uma “vintage”.
De facto, a mulher era uma criatura dedicada ao seu trabalho, no entanto, não olhava a meios para se fazer notar como uma produtiva, implacável, e determinada funcionária pública. Era filha, de uma família abastada de comerciantes da Vila, tinha uma irmã com quem não mantinha as melhores relações, tratavam-se como desconhecidas, nunca tinham brincado juntas, excepto na infância. Vivia só, apesar de visitar os seus velhos pais quase diariamente. Nutria um especial carinho pela sua mãe enquanto que, em relação ao pai não tinha qualquer tipo de admiração, o pai simplesmente fora um homem trabalhador, um marido ausente, um pai distante e distraído com as filhas.
O seu círculo de amigos era muito restrito. Passava os fins-de-semana a estudar os dossiers, a responder ao correio electrónico, a preparar reuniões, para tentar agradar os seus superiores e afirma-se perante os colegas e rivais. As suas férias eram passadas de forma invulgar, uma semana, duas semanas, por ano fazia ferias. Viajava sempre sozinha na companhia de três livros e do seu inseparável computador. Perdia-se visitar, museus, castelos, praias e lugares inóspitos. Já conhecia alguns países, tinha viajado ao Egipto, à Grécia, à Itália, sempre só recolhendo fotos e documentando os lugares, as experiências e momentos significativos dessas viagens. Não era por acaso que tinha a foto do barco no qual fez um cruzeiro no mar das Antilhas Holandesas. Nessa viagem, tinha vivido um romance espontâneo com um homem de fino trato, cordial e cavalheiresco, que na última noite abordo, no final da viagem, revelou a sua verdadeira identidade ao recusar aquele beijo fatal, como que carregado de brama. Tinha tido uma paixão por um Padre. A partir dessa data, esta má experiência, a aversão, a auto-recusa, a auto-negação de se envolver com um homem era total. No entanto, tentava ser agradável, para o Marco António. O Dr. Marco António de Albuquerque tinha sido seu amigo desde a infância até este ter ido para Coimbra para ingressar no liceu e prosseguir estudos. A partir dessa altura sempre que podia e com consentimento da mãe procurava encontrar-se com ele e agradar-lhe. Nunca teve a coragem de lhe falar da paixão, do amor que sentia por ele. Mais tarde, no verão de 1978, ficara uma semana fechada no seu quarto quando soube que o menino Marco António iria casar brevemente porque a sua namorada iria ser mãe a curto tempo. O casamento fora uma surpresa na Vila e para todos os amigos e conhecidos do mais famoso médico das redondezas. Sofrera muito nessa altura, culpando-se a si própria por não ter sido capaz de arrebatar o coração do seu namorado que nunca chegou a ser, a não ser na sua imaginação.
Após ter Terminado a Licenciatura em Germânicas, seguiu rumo à Alemanha, e depois para Viana, como leitora na Universidade. Conhecera José Cardoso, músico de profissão, filósofo amador e político nos tempos livres. Apaixonou-se pelo seu discurso, pela sua capacidade de liderança e pelo seu charme. Namoram, viveram juntos durante três anos, entre o amor e o ódio. Decidiram e no regresso a Portugal casaram, no entanto passados alguns meses, todos os pilares daquela relação matrimonial desmoronou. O filósofo profissional e músico amador José Cardoso, boémio incorrigível, regressará a velha cidade universitária e a sua querida Faculdade na categoria de docente, reconciliou-se com a vida académica e separou-se da mulher. Marta regressará à Vila, era professora no liceu local. Nos últimos anos dedicou-se a colaborar e a participar na direcção e nos destinos de algumas instituições locais. A política tinha vindo a convite de um colega seu. Nas eleições autárquicas tinha ganho o direito a um posto de vereadora e o seu rival político, Presidente Dr. António de Albuquerque, convidou-a assumir o Pelouro do Ambiente. Implacável como sempre, tentava fazer o seu melhor, tentava provar a si própria que era uma mulher eficiente, eficaz e activa no campo profissional.
Adepta incondicional de um feminismo doentio, não lhe escapam os erros dos homens, criticava-os, chamava-os de incompetentes e de bruta montes. Os homens para si não faziam sentido, excepto só serem necessários para fertilizar as mulheres de modo a preservar manutenção da espécie humana. No entanto, pelo seu Marco António, era assim que lhe chamava desde criança, e depois de tantos anos, via-o como o único homem diferente de todos os outros. Ainda vivia o sonho de uma adolescente que sonha com um príncipe que lhe jura amor eterno e será o pai dos seus filhos vivendo num castelo felizes para sempre. Guardava o segredo desta paixão no mais profundo recanto do seu coração, chegando por vezes a desejar a morte da esposa do seu Marco António, apesar de tratar a sua esposa e os seus três filhos, como de uma irmã e sobrinhos. Uma voz perseguia-a nos momentos de solidão e nostalgia mais profundos: - Se ela morrer, eu corro para os braços dele. – Este segredo estava também guardado que tinha receio de verbalizar, dar corpo a voz a tormenta, que a caçava desde o reencontro e a proximidade profissional com o seu eterno amor.
Alberto regressava a realidade e enclausurado no cruzar de pernas desta destemida mulher, olha para o relógio, restavam-lhe somente 30 minutos para se ir encontrar com a apavorante mulher, perguntando-se com o que se ia deparar:
- O que me quererá esta apavorante tia? –
Olhou para o horizonte, o sol já tinha desaparecido, restava ainda a claridade laranja no horizonte, para manter o ânimo de ir fazer um bom trabalho. Apagou o cigarro, colocou o que restava do cigarro no balde do lixo, olhou de novo o horizonte e disse para si:
- Que venha, qual reportagem, qual carapuça, está sabe aquilo que eu não sei! Entrou no carro, e começou a descer a serra rumo à vila. A noite começava a dar os primeiros sinais de vida, a temperatura baixou, e a escuridão da noite apoderou-se dos bosques. A luzes do carro cortavam a escuridão no serpenteado da estrada, a musica ajudava a fluir as ideias, quando, repentinamente surgiu um imagem branca, e por fracções de milésimos de segundo a silhueta da enfermeira. Travou fundo a ponto do carro ficar estático e a 20 metros afrento do carro estava no meio da estrada uma cerva imóvel encandeada pelos 100 watts, das potentes luzes do carro. Alberto ficou eufórico, teve um pressentimento que a enfermeira estava a pensar nele. Tinha que a conhecer! Talvez hoje à noite ela ainda aparecesse no restaurante, sempre era amiga da Dr.ª Marta. A enfermeira sim, uma companhia feminina agradável, um corpinho… Aquele momento, aquela fêmea que se deslocava lentamente atravessar a estrada era pressagio de boa coisa. Seguiu estrada abaixo, até chegar a parque de estacionamento do restaurante.
Ao entrar na sala de jantar, que estava vazia, olhou para a – tia encalhada – e exclamou silenciosamente:
- Esse cabelo excita-me – Sandra estava de costas voltadas para a porta, o longo, sedoso, cabelo preto, cobria-lhe os ombros morenos e sedosos, seduzia Alberto a vê-la nua, sentada na cama a pentear o cabelo. Olhou para o tecto, procurou desligar-se das suas fantasias e instintos… e digeriu-se para a Sra. Vereadora.
3. Continua!
2 comentários:
Oh.. estava tão embrenhada na história... aguardo a continuação. Beijo
Obrigado!!!
Eu vou continuar!
Um beijo em ti.
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